sexta-feira, 17 de abril de 2009

Trivial de Sergio de Souza: do Luis Nassif.

16/04/2009 - 19:07
por Luis Nassif.

Trivial de Sérgio de Souza

Ontem fui palestrar no Hospital Oswaldo Cruz. Um grupo de jornalistas amigos e admiradores do grande Sérgio de Souza está palestrando por lá, toda quarta-feira, em retribuição ao atendimento que o hospital deu ao Sérgio.

Lá conheci a viúva, Lana, e alguns filhos dele.

A capa da Caras Amigos - sobre minha batalha contra a Veja - foi fundamental para a empreitada. Na verdade, naquele início de guerra, apenas três jornalistas não me consideraram um louco varrido e perceberam até onde poderia chegar. O Mino, em uma entrevista ao jornalzinho da Cásper; o Milton Coelho, em seu artigo para o Comunique-se, e o Sérgio, na capa para a Caros Amigos.

Foi o último trabalho de Sérgio. Contou-me a viúva que ele passou o final de semana revisando a degravação. Na segunda ela e ele deram uma última conferida, antes de mandar para a gráfica. Na quarta, ele caiu de cama para não mais levantar.

Disse-lhe que, alguns meses atrás, saí para almoçar com o Luiz Fernando Mercadante e ele me falou da importância do Sérgio para o estilo de redação da Realidade. Era o dono do melhor texto e o jornalista que copidescava todas as reportagens.

Curiosamente, disse a ela, o Fernando elogiou muito o Roberto Civita daqueles tempos. Lana - que também trabalhou lá - reiterou que Roberto era querido e respeitado por todo. Inacreditável o processo de deterioração que o fez se iludir e endossar a degradação da Veja.

Ela me contou do Sérgio agregador, da legião de amigos que juntava em torno de si e levava para onde fosse. O Juca Kfoury, o Trajano, o Miltainho, o povo do Bondinho. Embora fosse amigo de todos, nunca cheguei a fazer parte da turma. Ela me disse que nos anos 80, meu amigo Otávio Costa sugeriu que me convidasse para as feijoadas que dava - ainda hoje, famosas. Para meu azar, o convite não se consumou.

Estou aguardando outro convite, para rever os amigos e eles me falarem mais da personalidade de Sérgio.

Só sei que, depois de dois dias no interior de Goiás, acordei cedo, coloquei notas no Blog, enfrentei três horas e tanto de carro até Goiância, duas horas no aeroporto, uma hora e meia do vôo até São Paulo, uma reunião às cinco, trabalho no carro entre um trajeto e outro. E, quando saí da conversa com ela, estava tão leve como se tivesse passado o dia tocando choro com meus amigos do bar do Alemão



16/04/2009 - 23:31

Enviado por: wilson yoshio

sou do tempo que as informações tinham horário para chegar.11:15. no vale dos sem-eira-nem-beira.
vinham de trem , no primeiro vagão , na primeira janela , os dois bancos forrados de revistas, o guri e as da Ebal para nós, molecada, e as fotonovelas,grande hotel e sentimentais para as donzelas, que nós líamos de carona, negociadas com as irmãs, prá sabermos o que escrever nos bilhetes prás namoradas.

os jornais eram pros sérios ,adultos, estadão era lido pelo meu pai após o armazém lotado dos desembarcados , passageiros e alunos esbaforidos rumo à escola ,dá um sorvete, um pé-de-moleque, esvaziar.

rádio ligado na tupi, desde as sete, ” seu arara vai voar”, o trabuco,os caipiras entoando as de raiz,, meu pai era o decifrador das notícias pro povaréu em roda . mais tarde, eu ,no ginásio tive que ir de trem todos os dias até a sede do município. nós tinhamos o dia da graça e da desgraça.

O da graça era um jornaleiro gordo de quepe que mal cobria a cara larga e deixava a gentinha miúda e dura dos merréis folhear “sem dobrar nem amassar”, as vezes comprar, prá manter as aparencias e as benesses, e no retorno a tarde, no trem das 16 trocar por outra, não lida ainda, ” pega uma inédita, japa!” e nós aproveitavamos. nós líamos desde a biblia sagrada, quadrinizada, faroeste até catecismos do zéfiro, prá canOnanizar as tensões.o da desgraça era um careca mal-humorado, de mal-da-vida, que revezava dia-sim-dia-não e não vendia patavina, só jornal de tão sovina.

sou do tempo que só as exatas somavam a exatidão do futuro.eu queria ser jornalista e toda classe apostava sua notas nisso.aí teve um cara chamado silvio fiolo que ganhou medalhas em natação.e descobriram a sua mãe, professora dando aulas ali perto.liguei prá gazeta esportiva, falei com thomás mazzoni ” faz e manda prá mim, há ! e tira fotos! ”

duas viagens de trem, ouvindo a mãe na volta das aulas pra pensão. eu era um puro, na época.eu rascunhava, de parker 51,conversa de mãe, orgulho de mãe.
relia meu curso por correspondencia, mas ele não mordeu nenhum cão, não vão publicar, e as fotos? o fotojapógrafo pediu uns mil réis de reis.nem guardando o dinheiro das revistas de um semestre, nem tirando escondido do caixa da venda do pai !

vira prá lá, patrocínio! sou mais gutemberg, jornalistas ganham honestamente… foi aí que não estreei na imprensa, a carreira foi de braçada na correnteza.
em 66 vim prá sampa que já é outra realidade, do redondo, da arena, dos autores-inéditos…dois podiam conversar, tres eram abordados, suspeitos de subversivos…

sou do tempo da Realidade do goleiro que ” onde ele pisa nem grama cresce mais”, do Bondinho e seus leitores que não cabiam numa kombi,que descarrilou do pão de açucar, e a capa na minha memória é walmor chagas, vestido de noiva, sentado num vaso sanitário. e o texto! coloquial, conversa de boteco, do haf, das sacadas descompromissadas .

e as pautas! dignas de mandar as atuais à pauta que pautou! sabinando o fernando, nosso encontro marcado, sagrado era com as revistas mensais, esperadas prá deleite, movimento, opinião, polítika, pasquim, grilo, ex, cadernos da civilização brasileira,senhor.

Outro encontro esperado eram as regras das nossas transas pós pílulas, mas não, ainda, confiáveis.( tempos depois, mauricinho perguntou numa sexta-feira” tio, tem horas?”- tio? tá, devo ser tio, mesmo! eu vivi a explosão da pílula, você convive com o fantasma da aids…” ih, tio,parece meus pais falando, estragou meu fim de semana, vou prá casa”.
vinga se melhor quem ri por último.)

mas divago,devagar. nossos jornalistas prediletos,que testemunharam os desjejuns de cada dia estão partindo. figuras familiares de nome,dos expedientes, das olivettis, das letteras.

quem redige obituários são profissionais. leitores não.
Mas até prá reverenciar aos familiares, os filhos, que tem de quem se orgulhar,escrevo de sopetão, sem consultar a grande bíblia do nosso tempo, o google, prá saudar uma lavada de alma, quando o sócio do ócio, logo, ainda, era intocável, uma caros amigos, prá tremer os inimigos baratos, tomás lá, dá cá.

Aí, pensei, caracas,vênus-de-zueira! esse é o Serjão Certo!

17/04/2009 - 00:17

Enviado por: Elizabeth

wilson yoshio

tenho lembranças iguais às suas, especialmente eu, que detesto futebol
“sou do tempo da Realidade do goleiro que ” onde ele pisa nem grama cresce mais”,
nucna esqueci
e
"do Bondinho e seus leitores que não cabiam numa kombi,que descarrilou do pão de açucar, e a capa na minha memória é walmor chagas, vestido de noiva, sentado num vaso sanitário. e o texto! coloquial, conversa de boteco, do haf, das sacadas descompromissadas" .
um abraço

17/04/2009 - 10:53

Enviado por: wilson yoshio

Elizabeth, arigatô!

então deves lembrar de uma carta de leitor no pasquim, quando a redação, toda menos o Millôr, em vão !bobo! foi enxadrezada. o cara, Arnaldo Micelli, acho, provocou comoção nacional, emoção prá uma caixa de lenços,como Drummond traduziu o sentimento do mundo,de nós leitores.

Onde andará esse cara? espero que não tenha se endireitado. engraçado a memória afetiva da gente, lembramos de coisas boas que nos tocaram há tres décadas, de quando nós éramos inocentes úteis tal meu pai…”cê tá besta, moleque, deu no jornal” e tava sacramentado juramentado.

Mas voce diz:

“Nunca mais será a mesma, porque além de fazer jornalismo independente e de brio — et pour cause–, é preciso, principalmente, ter coração”

Nesses tempos, pós-barnard, pós-transplantes, não dá a impressão de que o coração muda, foi trocado seu norte, seu rumo, suas opiniões ao flutuar dos ventos, do patrocinador de plantão,quando caras que aprendemos a admirar,linhas de raciocínio e argumentos familiares mudam de paladar palátaveis até pelo curió em serra pelada? ( inspirado no Mino,rs)

Tá certo que todos tem que rodar as bolsinhas, com os laptops, que as familias não são de barro, não vivem de brisas …mas devagar com o andor que o outdoor é de stand’s, que pode não ser rima mas é anagrama de acusação de dantas, de dantes, de quando, ainda,não éramos incréus…

Elizabeth ,obrigado mais uma vez!
a pior parte da blogesfera é a blog-in-diferença.

sabia que tenho uma Ellgrand ( van de 8 lugares) no Nihon, mas aqui? meus filhos odeiam luisnassif, lá vai “ele pro luisnassif, orkut?orkutou! ”

meu chônan( primogênito) diz, papai, é muita citação, junto. vc diz que a comunidade tem 3500 e trálálá.quantos leitores? quantos leem e gostam do que vc escreve?
a esperança é a última que corre… dois, já, sei que leram, vc e o Ivan, outro frasista mortal aos inimigos…mas, aos Amigos tudo. aos inimigos o youtube. abraços frasísticos.

(Mas que faz falta alguém empunhar a bandeira, tal aprendiz de mestre-sala & porta- nossos ideais neobom no pautódromo, contra, da mídiavil, faz! ou não?cadê a ABI? ABRINQuedou-se?)

17/04/2009 - 11:31

Enviado por: Vivian S.

Lembro-me da minha primeira Caros Amigos. Estava na universidade, fazendo comunicação, sonhando com o jornalismo e de repente, aparece, naqueles meados dos anos 90, uma revista cheia de graça, com personalidade, trazendo àquilo que idealizava : jornalismo gostoso de ler, com reflexão, com idéias, com conteudo, com debates, com poesia, um novo-velho-jornalismo, distante daquele jornalismo cinza, quadrado, de classes, da imprensa nossa de todo dia. Acho que foi fundamental para nos, estudantes, que buscavamos muito mais do que encontravamos nos jornais de então, a publicação da Caros Amigos.

wilson yoshio: que texto delicioso!


17/04/2009 - 11:53

Enviado por: Elizabeth

Querido Yoshio

a blogosfera sempre tem boas surpresas, como aquele seu texto maravilhoso de ontem, com lembranças iguais às minhas.
.
e aqui não é a comunidade do Nassif, aqui é só o blog, você deveria entrar, que lá tem gente finissima. (Olhai Nassif, quero meus 10%…kkkkkkk)

não me lembro dessa carta do Pasquim, lembro da prisão dos caras, sim.

e sobre o coração, não dá pra fazer nada sem, a coisa fica torta, quadrada, sem vida.

(eu entendi especialmetnte isso em textos budistasque estudei num templo japonês da avenida do Cursino)

sejam quais forem os tempos,ocoração é fudnamental, e especialmente na esquerda, que sempre teve dificuldades com tal órgão.

e diz pro seu chônan que tem gente que gosta do que você escreve sim, eu sou uma, e quantos devem ter lido e gostado também???
(estava aiinda ontem conversando com uma amiga galega sobre todos os nossos amigos de tantas nacionalidades que aprendemos a amar neste país tão rico. a colônia japonesa sempre me aocmpanhou, desde criança, e quando provei meu primeiro doce de feijão azuki com ovo: achei horrivel! hoje gosto demais!
arigatô pra você
abração e apareça na comunidade

17/04/2009 - 14:58

Enviado por: wilson yoshio

Elizabeth, já estou na comunidade! na comum idade solidária, e logo no nihon, solitária,rs. vc falou de Buda, me procura no portal, postei foto minha junto dele ( o mais alto, de cabeça cortada é o Buda!)rs.
mas meu ano sabático lá comoveria um Buda de bronze.estou esperando a síndrome de ijime(maus-tratos ) baixar prá blogar.

Vivian S. arigatô! minha ellgrand de leitores tá crescendo aqui. já tem TRES testemunhas, sem mumunhas…vou fundar a Testemunhas de wilsonyoshio, vou corretar tal odin placebo,leitores de almas a 10 %.
texto delicioso? reminiscências da Páscoa , período que o mel sobrepuja o fel.
mas com tantas vírgulas e reticências, falta de negritos e itálicos, não vou pros manuais de redação dos pasquales nem pro ranking dos iletrados da fuvest.
mas choco que late não lorde. há mais coisas entre o céu da boca e a língua que sonha nossa vil midialatria.ou chocolatria.

seu nick Vivian S. é inspirado em Bruno S. do Herzog, o Werner?



(e para fechar o post o comentário de Lana Nowikow, a viúva de Sergio de Souza.)

18/04/2009 - 02:14

Enviado por: Lana Nowikow

Obrigada Nassif, obrigada a todos que se emocionaram com o seu texto sobre o Sérgio de Souza. Preciso fazer uma correção, duas, aliás: a dívida com o hospital Oswaldo Cruz está sendo paga com palestras de jornalistas como você, Juca Kfouri, José Trajano, Zé Hamilton Ribeiro, Ricardo Kotscho, Caco Barcelos, Bob Fernandes e Bob Costa se dispuseram a dar . Já houve duas e as outras transcorrerão no curso do ano, de dois em dois meses - o tema é o próprio jornalista que escolhe. São dirigidas ao corpo clínico e administrativo do hospítal, mas abertas ao público em geral. Aviso quando for marcada a próxima palestra, para quem se interessar.
A segunda correção é sobre o restaurante. Está havendo uma confusão dos diabos (há pouco uma turma de amigos me alertou para isso). A Feijoada da Lana continua firme e forte no lugar de sempre: rua Aspicuelta, 421, Vila Madalena. Porém, ali, só o nome (e a receita) são meus, o restaurante pertence à minha filha Luisa. Acontece que eu estou abrindo um outro restaurante, a Casa da Lana, também na Vila Madalena, rua Purpurina, 293. O “estou abrindo” é porque falta alguma coisa que a burocracia exige, mas está sendo providenciado. Claro que aos sábados há feijoada ,aliás, a própria do restaurante da rua Aspicuelta, mas haverá outros pratos - todos com sabor de comida de mãe.
Sim, há outra Feijoada da Lana, recém-inaugurada no Embu, que pertence à outra filha, Silvia, como bem lembrou a leitora acima.
Um forte abraço.

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