sábado, 6 de junho de 2009

Jota e o maitre ou Preconceito de Conta

Foi em 83. eu era operacional numa multifrancesa, cujos diretores voavam do rio na terça cedo, e voltavam quinta à tarde, tal políticos que planam no planalto.
eu recrutava,administrava,fazia escalas ( uma folga no meio da semana e um domingo por mês: só quem fez sabe como é difícil),das 9 as 12hs.
almoçava e cumpria a parte externa,operacional, a de resolvedor de imprevistos e controlador do dinheiro, até as 23hs, hora que o carro-forte recolhia, eu também.
sextas, preparar para o pico do fim de semana, nosso ganha pão. segundas, tranquilidade de rotina, saber o porque da quebra do previsto.
J. era motorista da diretoria,terno colete gravata,que anos de transitar entre os ricos sofisticam,aos inteligentes,num ascensorismo social.
Os dias sem diretoria beiravam monotonia.Na segunda,corria no banco prá depositar a falta, do que o fundo de caixa fazia,prá segurar as contas não planejadas da empresa, cobertas com meu cheque, sempre xeque em choque, nos caixas.
O financeiro,H., era um carioca porra louca, trintão de jeans,representante do grupo brasileiro, por força de lei dos generais.disputava posições, ego a ego com o francês,o artístico doidão, tido como genio da novela vaga.o tertius,A.,nem podia nem subia acima,não saía do muro, francês também, era bem-casado com uma das herdeiras dos brasas, só vinha,eventual,marcar território.
O Jota fazia o circuito aeroporto-empresa-belas reformas-hotel.Numa sexta, o Hagá não voou.meu bip disparou, direto.( eu tinha um código com a central."urgente" o bip disparava intermitente, em intervalos de segundos.
o Hagá mandou recado"urgente"!)av.ipiranga nº...caracas!
fliperama!tavam os dois,o Jota e o Hagá,jogando..."entra aí, ô japa, chega de fundir a cuca,bicho,putzgrila"!
o hagá cansou,zarpou"vou cum a minha mina ver corrida de submarino".vale o que? perdi a janta pro jota.
propus-revanche na sinuca?pegou o diplomata,subimos a brigadeiro.
bilhar de seis mesinhas.(quem já jogou mesinha sabe.é como o futsal,os contos,os haikais,as frases. os pequenos espaços geram os grandes,na arte).
ganhei fácil."escolha o lugar" escolhe vc, ao perdedor às escolhas(da conta)!
Desceu a major,subiu a treze," aqui é o templo da picanha, dos cortes especiais... tá em todos roteiros",quase vazio,pela hora,

veio cardápio, ou foi no ritual,ridículo do, apresentar rolha!( que comparo a outro, da sogra pendurar o lençol manchado, rubro, do rubor virginal,na manhã de núpcias, quantas burladas por vinho?)
-dá pro perdedor, " perdão,sr,não entendi"-ao perdedor,as desditas, a maldita, conta!
"ele?"é, ganhei na sinuca,de lambreta(quando vc mata todas e o adversário nenhuma)!carne de primeira,vinho igual.
chega o maitre,bandeja co'a conta prá mim - ele paga!
O sorriso traiu o formal, "o garçon sabia"?claro,contei prá ele,ganhei na sinuca, porque?
" nada não,chegou prá mim e perguntou-na mesa 6,o negão e o japa, quem paga a conta?olhei,dos meus vinte anos de conta, o japa! vale a caixinha do mês? não,só a de hoje!da semana e as saideiras, nalgum lugar?
apostado! perdi, tem dias de conta,outros de calote!"
e o jota,só ouvindo, cofiando o bigode, conferiu, puxou a carteira, sacou uns 4 cartões,outros tantos de talões,dos especiais,puxou os extratos,"quanto tava o over hoje?"reconferiu os saldos,
"tem calculadora?"...o maitre, estóico,filosófico até,sorriso britanicocearense, dos que sabem, nada como uma perda após uma vitória, uma luz no fim do túnel,de serviço, que tem a volta, o troco!
" a caixinha é pro garçon?"deixou, quase, 30%,recebeu as mesuras de todos, da brigada de salão até a cozinha,cientes pelo garçon,e,quase, dos habituais.
afinal, a finesse não nasce prá todos.ao maitre, os sorrisos de mofa.
deu dez pro manobreiro,e fui falando:

Cara, foi o primeiro preconceito de conta que eu vi!

( e prá quem gosta de sinuca,veja este video: acho que é a teoria do dominó dos eua,adaptado às bolas.)

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